A CAPITAL VÊ DE PERTO A PERDA DE COMPETITIVIDADE DO POLO TÊXTIL POR FALTA DE COMUNICAÇÃO
EDITORIAL — Por que o Agreste perdeu o timing da comunicação — e como recuperar o protagonismo antes que seja tarde
Por mais de duas décadas, o Agreste pernambucano sustentou um dos fenômenos mais impressionantes da economia popular brasileira: um polo de moda que cresceu sem mídia, sem campanhas e sem audiovisual estruturado, apoiado quase exclusivamente no fluxo físico de compradores.
Esse modelo funcionou — até deixar de funcionar.
Hoje, a falta de comunicação profissional e a dependência excessiva de redes sociais cobram um preço pesado. Enquanto os confeccionistas acreditam que Instagram resolve tudo, marketplaces internacionais avançam com força e tomam espaço diariamente.
Moda Center Santa Cruz
O maior centro atacadista de moda do Nordeste é um gigante tradicional, mas com comunicação tímida. São mais de vinte anos de história sem que a maioria dos lojistas invista em vídeos, campanhas ou presença audiovisual consistente.
Calçadão Moda
Criado para organizar os pequenos confeccionistas das ruas, tornou-se vitrine importante — mas sem voz. Faltam vídeos, campanhas e estratégias que ajudem o pequeno produtor a ser visto.
Altas Horas Outlet
Moderno, bonito, bem projetado e recém-inaugurado. Mas praticamente silencioso. Poucas lojas, pouca diversidade e um site esteticamente impecável, porém sem vídeos dos lojistas — exatamente o formato que mais cria desejo no cliente.
A cidade que abastece o Brasil inteiro com jeans enfrenta o mesmo cenário: produz muito, mas comunica pouco.
Quem anuncia todos os dias ganha mercado. Quem depende apenas da reputação de anos atrás, perde terreno.
Maior cidade do Agreste, Caruaru não possui hoje um centro de compras moderno.
Restou uma feira livre desgastada, sem conforto, sem estrutura e sem audiovisual — um contraste enorme frente ao seu potencial regional e turístico.
Falta palco. Falta narrativa. Falta comunicação.
O Agreste construiu:
produção excelente
reputação histórica
centros de compras importantes
Mas não construiu:
presença midiática
campanhas coordenadas
identidade audiovisual
conteúdos contínuos
estratégias comerciais modernas
As redes sociais foram tratadas como solução universal, mas são apenas vitrines instáveis e imprevisíveis.
Enquanto o confeccionista local posta um vídeo por semana, os players chineses:
publicam milhares de vídeos diariamente
utilizam influenciadores
dominam tráfego pago
entregam preço, qualidade e velocidade
investem agressivamente em comunicação
Quem aparece mais, vence mais.
E hoje, quem aparece mais não é o Agreste.
O futuro do polo de moda deve passar por um ecossistema audiovisual próprio, estável, local e profissional.
É exatamente esse o espaço que se deve ocupar:
A região não precisa competir com o Instagram e outros players
Precisa contar sua história de forma organizada, profissional e constante.
O Agreste continua gigante, mas gigante silencioso.
Num mundo dominado por vídeo, quem não se mostra desaparece — mesmo produzindo bem.
O futuro da região não depende apenas do que ela costura.
Depende do que ela comunica.
E, pela primeira vez em décadas, existe um caminho claro para recuperar o protagonismo perdido.
Mike N.